Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostram que desde o início da pandemia Covid-19 as tentativas de golpes financeiros contra idosos aumentaram cerca de 60%.
Os golpes são antigos, entre eles o estelionato é o mais comum. Os estelionatários normalmente são gentis, supersimpáticos e fingem que querem ajudar alguém ou pedir ajuda. Muitos idosos nem sempre reportam à família e à polícia osgolpessofridos, dando a entender que o número de golpes é muito maior do que é anunciado.
O material a seguir, foi preparado pela Defensoria Pública do Distrito Federal e visa exemplificar como são aplicados os golpes contra idosos.
O primeiro bandido aparece. É uma pessoa simples com história comovente. Diz que possui um bilhete premiado (lotomania, prêmio Jequiti, Tele Sena, herança, etc), mas está com dificuldade e precisa de ajuda para sacar a bolada.
Golpe do bilhete premiado.
O criminoso pode mentir que tem medo de ser enganado na hora de resgatar o prêmio, que não consegue enxergar direito, que não sabe ler, que não sabe onde fica a lotérica, que não pode receber todo o prêmio porque sua religião não permite, ou ainda, que precisa de duas testemunhas para receber o prêmio. Inventa qualquer mentira para pedir a ajuda da vítima.
Nesse momento, um segundo bandido, bem vestido, com um bom carro, simpático e de boa conversa, aproxima-se perguntando se os dois precisam de ajuda. Depois de alguma conversa, o primeiro bandido, aquele que tem o bilhete supostamente premiado, se propõe a dar uma parte do prêmio se os dois ajudarem.
Para isso, ele solicita uma garantia de que pode confiar naquelas pessoas. O segundo bandido obviamente concorda e entrega um dinheiro para o primeiro bandido (tudo combinado). A vítima fica encantada com a possibilidade de ganhar uma bolada e acredita na encenação. Vai até o banco, saca o dinheiro e entrega ao bandido.
Com o dinheiro em mãos, o bandido usa uma desculpa e desaparece (diz que está passando mal, que precisa ir ao banheiro, ou fala que precisa ir até sua residência para pegar documentos, etc).
Também pode acontecer de o bandido sugerir à vítima que fique com o bilhete premiado para resgatar a fortuna, mas mediante a entrega de algum bem ou valor em dinheiro que sirva como garantia de que a vítima não irá fugir com o bilhete premiado.
ORIENTAÇÃO: Na aplicação de golpes financeiros em idosos, os criminosos podem se tornar violentos se perceberem que a vítima não está disposta a colaborar. Fale que não está interessado e saia de perto. Se encontrar uma viatura policial, explique o ocorrido.
Golpe do falso sequestro
O bandido liga de maneira aleatória para muitos números. Geralmente este bandido está preso e possui tempo de sobra para efetuar ligações. A vítima atende e um bandido grita no fundo, como se fosse uma pessoa “sequestrada”.
A vítima desesperada entrega (fala) o nome de algum parente como a mãe, pai, filho, filha, neto, neta, sobrinho, tia, etc. Era justamente essa informação que o bandido queria: agora ele tem um nome de um familiar para prosseguir em sua tentativa de golpes financeiros em idosos.
Exemplo:
Vítima: – Alô?Bandido: – SOCORRO, ME AJUDA, AAAHHHHH!!!Vítima: – João, é você? O que aconteceu? Você tá bem?Bandido: – O João foi sequestrado! Se você quiser vê-lo vivo, pague o resgate! Transfira mil reais para a minha conta bancária!
A vítima, no desespero, não percebe que foi ela mesma quem forneceu o nomedo filho e que não há sequestro algum.
ORIENTAÇÃO: Desligue o telefone. Tente contato com o suposto sequestrado caso lhe traga mais conforto, ou peça que alguém de sua confiança o faça.
Golpe do carro quebrado
O criminoso liga para um número qualquer e, depois que a vítima atende, diz:
Bandido: – Oi, vô! Estou na estrada e meu carro quebrou, preciso de ajuda. Pode transferir dinheiro para mim?Na maioria das vezes, a vítima dá o nome de algum parente, e o bandido confirma que é ele mesmo. Entretanto, se a vítima não se recordar da voz, o bandido diz:Bandido: – Sou eu, vô, não acredito que você não lembra de mim!
A vítima fica constrangida e acaba atendendo o pedido do bandido, realizando transferências bancárias ou recargas de celular.
ORIENTAÇÃO: Fique calmo, desligue o telefone e entre em contato com a suposta pessoa que estava conversando para confirmar os fatos. O estelionatário, para variar no golpe, pode mentir que “sofreu um acidente” ao invés de falar que o carro está quebrado. De qualquer jeito, solicitará a transferência de dinheiro para a conta bancária.
Golpe da indenização judicial
Os estelionatários enviam uma carta para a pessoa idosa informando que ela mesma ganhou uma causa na justiça. Entretanto, para receber o suposto valor, terá que pagar honorários advocatícios ou custas processuais.
Pode acontecer de constar, na carta, o telefone para contato e o endereço do falso escritório de advocacia para que a vítima entre em contato. No entanto, é tudo fachada para enganar a vítima.
E é aí que acontecem os golpes financeiros em idosos.
Este tipo de golpe também é comum em pequenos negócios, tocados ou não por idosos, com uma variação: ao invés de uma bolada ganha na justiça, cobra-se por serviços de publicidade não contratados (geralmente em listas telefônicas inexistentes ou sites desconhecidos). Se a vítima não concordar em pagar o valor pretendido, os bandidos tendem a ficar agressivos.ORIENTAÇÃO: Fique calmo e não entre em contato com os criminosos. Comunique o ocorrido à Polícia. Em caso de dúvidas, procure diretamente a Defensoria Pública da sua localidade ou algum serviço similar gratuito prestado pelas faculdades.
Golpe da confirmação dos dados bancários
Neste golpe, o criminoso liga para um telefone qualquer e se passa por funcionário de banco.
Quando a vítima atende, o estelionatário fala que é funcionário do banco, apresenta uma mentira (“o sistema precisa ser atualizado”, “o cartão da vítima foi clonado”, “houve movimentação financeira estranha na conta”, etc) e pede que a vítima forneça os dados bancários, tais como a senha do cartão ou informações nesse sentido.
Os criminosos também realizam esse golpe se passando por funcionário de uma administradora de cartões, informando que uma compra de alto valor foi feita no cartão de crédito. Então, para liberar ou não a transação, é necessária a confirmação de alguns dados pessoais, incluindo número da conta, cartão e código de segurança.
Os criminosos geralmente sabem vários dados da vítima, que vai repassando as outras informações automaticamente sem perceber que é um golpe.
ATENÇÃO: Bancos não ligam para a casa de seus clientes pedindo confirmação de dados bancários exatamente para evitar situações que possam gerar golpes financeiros em idosos. Quando é necessário fazer a renovação cadastral, o banco geralmente avisa por meio de correspondência para a casa do correntista ou por meio de mensagem nos caixas de autoatendimento ou nos aplicativos de celular próprios. De qualquer forma, a atualização cadastral sempre será feita pessoalmente na agência bancária.
ORIENTAÇÃO: Fale que prefere resolver o problema pessoalmente na agência e desligue o telefone. Em caso de dúvidas, procure diretamente sua agência bancária e fale com o seu gerente. Se você for ligar para o gerente logo em seguida, após desligar a chamada supostamente fraudulenta, verifique se a ligação com o estelionatário foi realmente encerrada (em telefones fixos é comum o bandido “prender a linha fixa” e esperar para continuar a conversa quando a vítima tentar ligar para seu banco do mesmo aparelho).
Golpe do cartão clonado
A vítima atende o telefone. O estelionatário, que está do outro lado da linha, pergunta se a vítima emprestou o cartão para alguém. Após a vítima dizer que não, o estelionatário afirma que ela precisa ligar para o número de telefone 0800, que consta atrás do cartão.Nesse caso, a vítima não percebe que a ligação não foi interrompida (mesmo caso do golpe anterior com a “linha presa”). O estelionatário segura a ligação e, continuando a farsa, após verificar que a vítima discou, coloca uma gravação telefônica como se de fato fosse de uma agência bancária! É muita criatividade, não é?
A vítima, então, confiando que fala com algum funcionário do banco, já que ela mesmo discou para o 0800 e, ainda por cima, ouviu a gravação, começa a passar todos os dados pessoais (nome, RG, CPF, senha, etc.) para o estelionatário.
Depois disso, o estelionatário fala que um funcionário do banco ou até mesmo um policial irá até a residência da vítima para buscar o “cartão clonado”, chega até mesmo a informar o número da matrícula do atendente! Faz tudo para convencer a vítima de que essa prática é normal e segura!
Com o cartão que será entregue e as informações pessoais da vítima, o estelionatário ou seu comparsa fazem a festa: realizam os golpes financeiros em idosos através de saques e compras em lojas.
Em alguns casos, para dar mais credibilidade, os bandidos passam a orientação de que se destrua o cartão mas se preserve o chip. O desfecho é o mesmo.
ORIENTAÇÃO: Procure a agência bancária e fale com o gerente. Nunca entregue seu cartão para um estranho.
Golpe do cartão preso no caixa eletrônico
Os estelionatários instalam uma máquina capaz de reter cartões no caixa eletrônico antes de iniciar os golpes financeiros em idosos. Quando a vítima insere o cartão no caixa eletrônico, este fica retido. O criminoso, que estava esperando isso acontecer, aparece cheio de boas intenções em ajudar.O bandido pede que a vítima digite a senha mas o cartão continua retido. A vítima vai embora acreditando que o cartão ficou retido. O bandido retira o cartão da máquina que instalou e, como agora sabe a senha, faz saques e operações financeiras com o cartão da vítima.
ORIENTAÇÃO: Se tiver o cartão retido pelo caixa eletrônico, não aceite ajuda de estranhos. Peça ajuda dentro da agência com funcionários credenciados. Se isso acontecer fora do expediente bancário, deixe o cartão lá e ligue para a central de atendimento solicitando o bloqueio ou cancelamento do mesmo.
Essa situação também pode acontecer com a pessoa idosa que tem dificuldade em fazer operações nos caixas eletrônicos. Aproveitando-se da vulnerabilidade dos mais velhos, estelionatários oferecem ajuda com o objetivo de coletar dados pessoais do idoso, como senha do cartão.
A orientação é a mesma: não aceite ajuda de estranhos. Peça ajuda dentro da agência com funcionários credenciados.
Golpe da troca do cartão na agência bancária
Este é dos golpes financeiros em idosos dos mais comuns em agências de grande movimento.
O estelionatário aguarda a pessoa sair da agência bancária para abordá-la. Alegando que houve erro na operação, solicita o cartão da vítima, que acaba entregando, pois o bandido realmente parece ser funcionário do banco. Muitas vezes, está até com crachá ou uniforme com emblema do banco.
Quando a vítima entrega o cartão, o estelionatário o insere no caixa eletrônico e pede que digite a senha para validar alguma checagem. Na devolução, ocorre a troca do cartão e diz que está tudo certo, que a vítima pode ir embora.
Assim que a vítima notar a troca de cartões já será tarde demais, os valores que existirem na conta bancária terão sido sacados ou transferidos.
ORIENTAÇÃO: Não entregue o cartão para pessoas estranhas. E peça ajuda dentro da agência com funcionários credenciados.
Golpe do falso site
Assim como o local da agência bancária, o ambiente virtual é bastante propício para a realização de golpes, por isso a atenção deve ser redobrada. Lembre-se da dica: na dúvida, desconfie!
Nesse tipo de golpe, os estelionatários criam sites de vendas de produtos que são falsos. E, para aumentar suas vendas, agem de forma intensa em períodos considerados importantes para o comércio, como em datas comemorativas (Natal e Black Friday, por exemplo).
Para enganar a vítima, eles usam endereços eletrônicos bem parecidos com os de lojas famosas, alterando apenas a parte final, além de usarem até mesmo o layout dos sites famosos.
ORIENTAÇÃO: Verifique sempre a fonte! Confira o endereço eletrônico. Antes de comprar, certifique-se da idoneidade da loja. E tenha muita atenção com produtos que estejam à venda por um preço abaixo do mercado particularmente em transações à vista como boletos, transferências bancárias (que nunca devem ser feitas para contas de pessoas físicas) ou Pix.
Golpe do falso boleto
Muito cuidado com o boleto que você recebe, especialmente por e-mail, pode ser uma armadilha! Por meio de pesquisas que fazemos na internet, os estelionatários conseguem identificar aquilo que mais buscamos. Com essas informações, geram um boleto falso e mandam por e-mail para pagamento. Vai que cola!
E, muitas vezes, cola mesmo. A pessoa que recebe o boleto efetua o pagamento acreditando que ele é verdadeiro, porém o código de barras vai enviar o valor pago para a conta dos bandidos, não da loja!
ORIENTAÇÃO: Caso receba um boleto, leve-o ao banco ou entre em contato diretamente com o remetente. E quando for pagar também é importante conferir os dados.
Golpe para se apoderar do Whatsapp e extorquir a lista de contatos do legítimo proprietário
O golpe é o seguinte: ligam como se fosse do SUS para fazer uma pesquisa sobre o Covid-19. Perguntam se você está bem, se já está com sintomas, etc.
No final, enviam um código por SMS para você digitar no Whatsapp. Nesse momento, o seu WhatsApp é clonado e começa uma verdadeira via crucis para avisar aos parentes e amigos, registrar a ocorrência e tentar recuperar o acesso ao aplicativo.
O criminoso tentará extorquir os contatos da vítima pedindo dinheiro em nome dela, e muitas vezes tem sucesso.
Apesar de desde 2015 estar em vigor lei que dobra punição para casos de estelionato contra idosos, neste período de pandemia que vivenciamos o aumento é considerado bem alto, somente em relação a tentativas de golpes financeiros contra idosos a alta foi de 60%, de acordo com a Federação de Bancos. O Estelionato é o crime de “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. Pelo Código Penal, a pena de reclusão varia de um a cinco anos, prazo que agora pode ser duplicado caso o estelionato seja cometido contra idoso.
Este material foi preparado e distribuído pela Defensoria Pública do Distrito Federalpara a Cartilha da Pessoa Idosa.